terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tear. Down. The. Wall.

    Tão perto quanto eu desejaria que fosse, tão perto quanto antes nunca ocorrera. Ao mesmo tempo, tão longe quanto essas barreiras invisíveis que nos separam. Seria tão simples, bastaria um notar descarado, que eu percebesse, recíproco. Pois, se me notas eu não sei, e nem ela deixa saber. Teria ela também suas barreiras ou seria simplesmente desinteresse? Muito capaz eu nunca venha a saber, assim como já acontecera tantas outras vezes. Hoje eu a tenho do meu lado, literalmente, amanhã não mais e seguimos nossas vidas. Como sempre, nunca comigo.
   
    Não tenho mais os desejos adolescentes de ter e acreditar que assim será, eternamente enquanto dure. A minha realidade é outra. Sempre foi, mas antes não chegava a incomodar tanto. Essas paredes ocultas que não nos deixam trocar uma olhadela sem que esteja carregada de pudores, carregada de "não me vejas que te vejo".

    Este sou eu, não é novidade alguma. Meus muros são mais altos do que eu posso enxergar. Martelos e marretas, eu procuro desde que tenho consciência da importância deles. Ainda não os tive, quiçá nunca terei. Assim e de novo, mais uma vez.



-G-

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Only the good die young

    - O problema é comigo - disse ele contrariando Sartre pois dessa vez o inferno não eram os outros. Importante notar que ele disse a si mesmo, num trabalho de reflexão. Não que fosse alguma novidade, dada a sua natureza pessimista, o inferno era ele mesmo na maior parte das vezes. Não compreendia certas coisas e até mesmo por medo ou receio não se deixava compreender.

    Como por exemplo essas pessoas que vivem apaixonadas por amores em sua maioria impossíveis. Onde estava aquele antigo "eu" - ou "ele" - que também fazia disso? E muito, diga-se de passagem. Hoje ele apenas tem sues interesses, mas não chega a ser como antes. Assim como antes dele ter namorado tardiamente pela primeira vez. Ali houvera contato com amor recíproco, mais uma novidade em sua vidinha. Tomou consciência da gravidade da situação e nunca mais foi o mesmo. Verdade, mudamos sempre, mas logo em sentimentos que sempre lhe foram tão intensos?

    Pensou se os autores românticos, e pueris, sempre foram mal amados misturado a uma eterna juventude que lhes concediam esse sentimento tão forte como o é nesta época da vida. Retomo Meireles se perguntando em que espelho a face dela ficou perdida e faço a minha paráfrase: em que pares de olhos desconhecidos ficou perdido o meu sentimento?

    Morra jovem e viva para sempre. Apenas assim se aproveita o que seu coração tem a lhe oferecer no grau máximo de intensidade de paixão. Não acredito falar em amor, poies este é eterno, porém, acredito que nem todos foram feitos para partilhar desse sentimento, ativa ou passivamente, amar ou ser amado. Assim sendo, apaixone-se quem puder. Nosso eu-lírico não tem mais conseguido. O problema é comigo.


-G-




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sobre a perda e a tristeza.



É engraçado ver como as pessoas reagem a "grandes perdas da humanidade" se é que posso chamar assim, é sempre um sentimento mutuo de dar um tapinha nas costas um do outro e dizer "perdemos" alguém que por mais que se admire, tenha um contato, até uma idolatria, não se conhece de fato. Grupos tendem a pactuar na "dor da perda" para reforçarem seus laços e reafirmarem suas posições na sociedade. O pesar, que deveria ser algo nobre, uma ode a memória do que agora é somente algo que apodrece, se torna ainda troça, depois de morto o cadáver se torna escada para que outros subam e gritem a plenos pulmões sua identidade aos quatro cantos do mundo, e ouçam outros gritarem de volta, acenando, se unindo, "compadecendo" em grupo, reafirmando o compromisso com seu "estamento social"...
Eu não sei se é uma questão de amadurecimento, vejo gente de todas as idades fazendo isso, quiçá eu seja uma pessoa insensível de fato, não entenda a contribuição de certas personalidades para a história do mundo ou mesmo para a história de cada um, mas algo que eu entendo é sobre perdas, e devo dizer que me sinto ofendido quando vejo essas atitudes. Talvez esteja na hora de enxergarmos um pouco melhor o que de fato as coisas são, refletir melhor sobre o que significam certas atitudes e convenções, o que é construído e o que não é, principalmente em relação a sentimentos, mas se você enxerga isso e vive fora dessas construções, você é posto a margem da sociedade. Então meus caros norte coreanos sigam chorando lastimavelmente a perda de seus lideres e ídolos, profundamente deprimidos, pois eu imagino que de fato vocês realmente sentem muito... Não suas perdas, mas sua solidão, fraqueza e a necessidade de se ligar a algo "maior" ou um "deus menor" para que possam sobreviver...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Quarteto

Esses dias, eu e o coração fizemos as pazes.
Ele ainda está brigado com o cérebro - 
mas parece apaixonado pela alma.

Meu cérebro olha para os dois desconsolado. Não entende de onde vem tanta loucura, tanto querer, tanto irraciocínio.

Quer dizer, entende. Sabe. Lembra.

Mas discorda. Acha ridículo. Desperdício. Loucura.

O coração sabe que é louco - nasceu assim, cresceu assim, e vai ser assim até parar de pulsar.

A alma é de poeta. Brega, dramática, adolescente.

Os dois andavam brigados. Não se suportavem, porque viam em um e no outro mais verdade que gostariam de ver.

E, de uns dias pra cá, resolveram olharem-se novamente. E se apaixonaram.

Dizem por aí que o nome disso é felicidade, alegria, êxtase.

O cérebro chama de bobagem e de ilusão passageira. Tem ciúme dos sorrisos secretos da alma e dos escândalos do coração.

O que ele não sabe, e eu já descobri, é que ele tem é medo. De juntar-se aos dois e esquecer-se. Esquecer a razão.

Porque ele mesmo sabe que quando o corpo resolve juntar-se aos dois, é um deus nos acuda. Deixam o cérebro trancafiado em um porão escuro. “NÃO SAI DAÍ”, grita a turma de adolescentes bêbados. 

Todos drogados. O coração embebido de paixão grita, esperneia, faz teatro, atira-se de janelas, passeia de asa-delta. A alma abstêm-se de palavras: bebe suspiros, afunda em sorrisos, rola em tapetes de olhares profundos e esquece a própria identidade. E o corpo desanda a rir dos dois - move-se com graça, torpor, ardor. Brilhando, carrega cada um em um ombro e passeia por cada degrau de prazer em devaneios, como um personagem shakespeareano de um sonho de uma noite de verão. 

Um dia - disse a alma - vou chamar o cérebro pra essa festa. Vou convidá-lo a analisar nossas personalidades, cuidar melhor do corpo, guardar a alma com mais paciência.

Que bolo esses três vão misturar juntos?

Não faço a menor ideia.

Mas a impaciência dos jovens está quase me obrigando a pagar pra ver.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Em voô

Esses dias um pássaro tocou meu rosto.

E me perguntou:
- Que fazes tão cabisbaixa em uma gaiola?
- Mantenho-me presa.
- Então por que olhas tanto para a porta?
- Porque tenho asas. E não as utilizo.

O pássaro não sorriu. E deixou-me.
E eu deixei a gaiola.

Desci do muro, escalei meus medos
Apontei o dedo
Quebrei um coração
Olhei em volta, e até vi novas gaiolas
adornadas de ouro, espaçosas, confortáveis, carinhosas
E por elas senti-me atraída como um rato a ratoeira.

Joguei-lhe um beijo.
Pisquei um olho.

Dei meia-volta:
- Da minhas asas, não abro mão.

Chorei as lágrimas derramadas pelas minhas próprias palavras
Sorri enquanto planava sob o vento

E sonhei cinquenta e sete vezes com a gaiola dourada.

Não resisto. Insisto.

Adormeço a poesia,
Liricamente desfaço-me de velhas roupas
Descanso os braços e as canções cansadas, repetitivas

E abro os olhos para o horizonte
que, pela primeira vez
é infinito de verdade.

…mas
 aquela gaiola dourada…
Não.

A canção fica insossa quando cantada dentro de paredes.
A  música perde sentido,
A voz perde torpor
e os olhos perdem brilhos, tornando opacas todas as outras cores ao redor.
As asas. São as asas que importam. Que os olhos se fechem, que a pele estremeça, que o corpo se contorcione.
Mas que a asas não deixem de bater.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Segredos

Far away, they said.
That's where all your loving will remain.

Kilometros. Anos-luz. Horas, meses, anos.
As separações serão metafísicas. 
As sensações serão sonhos.
Os beijos serão efêmeros,
e as paixões serão invenções.

De cima do Olimpo,
Das nuvens do Céu, 
Das profundezas do mar

Todos eles mandaram-me ajoelhar logo no início
e disseram:
... vai ser uma dor e uma alegria
que você manterá consigo todos os dias
Até que se caia, até que se cale
Até que os neurônios sufoquem os lábios com um coração.

Sem motivo,
sem explicação
uma auto-condenação
Um segredo condenavelmente inofensivo
Uma rispidez da alma.

Um sorriso proibido,
Um brilho no olhar que achava ter esquecido
Três flechas em cada lado da ilusão
Um mar de rosas em que naufrago sem esperanças de retorno, de um farol, ou de um porto

Não navego - remo
Fujo de monstros inexistentes
Carrego bagagens mortais
e não as mato - 
mato-me aos poucos
Sem jamais tirar-me a vida
sem jamais liquidar o silêncio
calando a voz que deveria permear o ar de desesperança,
desilusão,
descontentamento
e despaixão.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Sem pensar.



 e, depois dessa, chega de negatividade. Ou não.


Lá vamos nós de novo. Eu e o tempo. No ringue. Na lama. Embaixo da chuva.
Ele me empurra para baixo. Eu o soco para o lado.
Três socos no peito. Cinco na cabeça, mas eu não caio.
Eu olho de soslaio,
Dou um beijo na testa e saio.

Porque, passa tempo, passa alma
passa-se a gana, passa-se o entusiasmo
mas a vida – a vida não passa. Ela continua.
E com ela a gente não briga. Não desafia.
Irritamos, desapontamo-nos, conformamo-nos.


Mas sabemos que o fim é completamente moldável por todas as brigas,
mas que torna-se mais tolerável quando nós três sentamos para jogar um baralho
amarrar um sapato
bodiar na janela

Não faz sentido. Sem ter tido alguma especificidade. Sem ter tido amor pelo amor, amor pela amizade com o tempo, torpor pela conquista de cada degrau.
A cada segundo perdido uma porrada.
A cada porrada uma ironia.
E, a cada ironia…
…uma afronta ao marasmo de todos os subs, inter e trans conscientes e não conscientes.

A lágrima não é o passo para a loucura. É o buraco no cano por onde os devaneios, as lutas, as idiotices e todas as outras humanidades estúpidas se estapeiam prolongada e pavorosamente.

Menos humano é seguir a curva ascendente. Mais humano é contornar, apaziguar os demônios, perseguir estrelas atirando para todos os astros.

Mais humano – mais arte, mais desafortunada alma multicolorida – é o caos da poesia de rima rica. A riqueza dos versos que, monotonamente, brigam com cada linha da história que não cansa de repetir-se.

Quando cansa… Mas quando cansa…
- o mundo gira,
o tempo passa
a alma amadurece
a cabeça menos enlouquece.

Mas o que adianta?
O fim é o mesmo: fim.
Ou não?
Bom, eu decido a não indecisão então. Pela vida – pelo meio-tempo. E para que amanhã não seja o segundo anterior.

Limpando gavetas...


Raiva por raiva, ódio por ódio, eu prefiro mais os sentimentos amenos, minha boa e velha sensação de "não pertencimento", mas eu as vezes me canso um pouco do marasmo, as vezes gosto de mudar coisa ou outra, e de cá pra cá quis me liberar de pesos antigos que eu carrego, de tantos pesos antigos que carrego. Quem sabe eu deva sorrir mais, mas não os mesmos de sempre, talvez eu deva sentir mais vontade de sorrir ou mais prazer com a companhia alheia. Talvez eu tenha feito escolhas maniqueístas, sido muito sumário com o mundo, talvez eu tenha vivido como se tudo fosse pra sempre e quando o sempre nos é ceifado, a mente se faz pensar numa turba de emaranhados que não fazem o menor sentido, e mesmo assim eu insisto em perder noites desfazendo esses nós.

Vez por outra eu lembro de algo que faz um pouco mais de sentido, ou uma carta amiga, um email antigo e eu fico contente em lembrar de pessoas por quem eu senti muito carinho e o tempo as desossa, disseca, fulmina e por fim simplesmente as apaga e muitas vezes sobram só umas conversas frias, um "como vai você" desinteressado, ou ainda um "qualquer dia passo lá" indiferente. Triste. Tenho saudades de meus irmãos mas não sei ao certo o que dizê-los, de meus primos, mas não sei como juntá-los. Assim a vida vai tirando tudo de mim, de maneira sorrateira, para quando eu menos me der conta, ceifar essas vidas e só me deixar o amargo arrependimento de ser uma pessoa tão ausente, tão distante, tão vidrada nesse mundo introspectivo que faz menos e menos sentido, obcecado e atordoado por conflitos mesquinhos...

Ah, mas cansei de lutar, gosto da neutralidade, de trocar somente gentilezas, pois por brigas com línguas e táticas fúteis, prefiro as breves espadas, cujas lâminas gritam mais alto do que qualquer garganta e a justiça é definitivamente a do mais forte. E assim é estar vivo, estar no fio da espada, esperando que ela baixe finalmente, esperando que o dia cesse e que tudo simplesmente acabe.

sábado, 28 de abril de 2012

Suicídio e a mentalidade cristã

Pensando sobre a morte e principalmente no significado da morte para a religião, a única razão que consigo entender é que a idéia de paraíso, inferno, demônios e anjos, todos essas alegorias antropomórficas e semelhantes a nossa imagem do ego e o mundo, só posso concluir que é uma idéia de classificar (na linha mais levi-strossiana o possível) e explicar a morte, dando a ela uma essência tangível, que seja possível compreendê-la, distanciando-a do fim absoluto que a morte de fato é (fim dos impulsos neurológicos e fim da consciência). A idéia de um fim absoluto é (ou foi) "prejudicial" ao ser humano em diversos sentidos, pois um final absoluto implica na perda da própria razão de existir. Vida, trabalho, estudos, acumulo de capital, enfim todo e qualquer gozo, simplesmente não possui qualquer razão de ser feito quando se sabe que com a morte todas essas coisas deixaram de existir pra você em absoluto, não poderá ver o fruto disso do paraíso, ou colher essas coisas do inferno que te aguarda, ou ainda rever seus parentes do outro lado e depois voltarem em outra vida. Daí que a vida tem um sentido em si mesma, por que se vive? porque não tem outro jeito, Simples assim, o suicídio (ou a morte) fora da mentalidade cristã elimina racionalmente qualquer possibilidade de gosto pela morte, pois racionalmente não há benefício algum, tudo o que acaba é a custo de seu próprio acabar, da perda da própria consciência, persona e existência de uma maneira geral, algo que pra qualquer pessoa em absoluto é impossível "imaginar". Ora, tente imaginar como é que outra pessoa vê o mundo pelos olhos dela enquanto olha pra você? É impossível, pois pra todos é impossível imaginar outra existência que não seja a nossa (ainda que seja possível supor, mas não compreender sentimentalmente outra existência, pois existem diversos por menores que fazem de nós, nós mesmos, algo que não pode ser "emulado") de posse disso é evidente que não é possível se imaginar sem consciência, sem existência, sem nada enfim. A morte como algo desejável só pode vir do cristianismo e da religião de uma forma geral, pois não importa qual é o fim que a morte leve, ela sempre leva a um lugar, a consciência não cessa de existir, a pessoa ainda "vive" e agora longe dos problemas que tinha, independente de onde se vai, o que é muito contrário da morte absoluta, sem consciência, inexplicável e absolutamente assustadora por essa razão. Portanto a religião colabora para o suicídio, pois concede a morte uma idéia de mudança, transição da vida e sem o fim da consciência e de toda a "bagagem" que essa pessoa construiu durante sua vida e a experiência dela. Só posso concluir que mais uma vez a religião somente colabora mais e mais com aquilo que ela tenta impossibilitar.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Temporários e Ases


E tem uma solidão - das brabas
que não acontece nem por estar-se sozinho.
É por sentir-se abandonado por uma espelho,
Por uma tripa de recheio
Por um miolo de pão mal tostado.


Não necessariamente solidão.
Não dão, não dá
Ou dão tudo que dá
e a própria alma não dá. Ou não encontra.

Só busca, rodopia, pia sem cantar
Plana sem voar
E simplesmente - desmaia na praia.
Não morre, porque levanta e nada contra a maré novamente.

O tempo, por exemplo.
Os segundos, milésimos
Os fragmentos sólidos de um ar que não se indefine por completo
Circundam, dançam, espatifam-se contra nós, patifes
E caçoam. Caçoam da melodia, dos odes, das epopéias
dos a favor, dos contra, e dos condizentes com seus passos mirabolantemente precisos.

A precisão, a prescrição
Fujo, persigo -
tento alcançar sem parear

E, no meio de tudo isso, quase aniquilo o coração
que pulsa perdido, destraído, sozinho
em brigas com as falhas dos miolos, dos tempos, das irrelevâncias indignáveis

Subaproveito, subsequencia, subpensamento
subterraneas imagens, rachaduras por onde escapam os medos

futuros, subjuntivos entrelaçados
passados, impperativos enfeitiçados

Muitos fins, começos,
- recomeços não, porque me repele a repetição.

Me repele a solidão.
Me repele a retenção.
Mas não me repele a cautelosa descrição, ou o cuidadoso cuidado com tanto.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Seja não

Exercite-se.
Coma fibras. Coma a cada três horas.
Não coma doces demais, gorduras demais.
Mas não perca grandes oportunidades.

Trabalhe.
Evolua.
Aprimore-se.
Relaxe.
Reinvente-se.
Descubra-se.
Concentre-se.
Seja criativo!
Adeque-se!
Seja gentil, polido
Seja sagaz,
Não seja ingênuo
Mas não seja rancoroso.

Seja humilde.
Não demonstre pobreza de espírito.
Mas não rebaixe-se.
Hidrate a pele. Proteja-a do sol.
Tonifique o rosto.
conserve o esmalte, as unhas bonitas.
retoque a maquiagem.
Mas não deixe que a vaidade prevalesça.

Zele pela sua vestimenta,
Zele pela sua morada,
Zele pelos seus bens materiais,
Zele pelo seu capital,
Zele pelos amigos,
Zele pela família,
Zele por seu amor.

Seja curioso,
Seja elegante
Seja simpático - mas seja comedido
Não seja extravagante.

Seja culto,
mas não seja chato.

Informe-se. Mas não se esqueça.
Habitue-se, sistemize-se.
E crie.

Durma bem. Não perca a hora. Aproveite o dia.

Se der tempo - ou se não der - viva.
E - se puder evitar ( o que é inevitávelmente impossível), não morra.

E não corte-se ao meio, em quatro, em oito...


(texto que tende ao infinito, amém).

domingo, 25 de março de 2012

O Puto

- Eu preciso de dinheiro! – disse ele para a sua namorada.
- Eu sei, amor, eu também me sinto assim, eu também quero a minha independência, minha casa, meu dinheiro, mas... infelizmente não há muito o que a gente possa fazer agora.
É o que acontece de vezes em vezes. Cursar uma faculdade e ver seus amigos crescendo na vida, ganhando um pouco aqui ou ali, mas enfim, ganhando uma certa independência. Mas ele, não. Eles, não. E isso o deixava frustrado, quando o sentimento lhe pegava com a guarda baixa. Não era o único a se sentir desse jeito. Sua namorada também sentia, assim como tantas outras pessoas, quando não em situações piores que as deles (que aqui não convém explicar, mas vale a citação).
- Sim, não há o que fazer. Será? – pensou ele.
Sua namorada sempre elevava o moral dele. Ele não se achava lá essas coisas, mas diziam que ele era bonito. Não era musculoso e nem magricela, era do tipo normal. Tinha uma vontade louca de amar as mulheres, mas nunca conseguiu se dar bem numa vida vadia. Aliás, não tinha lá muito sucesso com as mulheres, então, ficou feliz quando começou seu namoro, pois não teria mais de se preocupar com essas coisas de conquista do sexo oposto. Era um fracassado e sabia disso. Mas sua namorada o amava mesmo assim. Vai entender, a vida tem dessas coisas inexplicáveis.
Mas agora, a situação era diferente. Estava desesperado. Resolveu, então, unir o útil ao agradável. Jamais trairia seu amor, mas a situação estava crítica e, fizesse o que fizesse, ele saberia separar sentimentos que as mulheres não conseguem separar. Por exemplo, amor e sexo.
Resolveu se prostituir.
O que era complicado, veja bem. Não é um botãozinho que se liga ou desliga e então você é um profissional do sexo. Tem gente até que prefere as profisisonais que não são tão profissionais assim, se é que você me entende. E ele também nunca havia se utilizado desse serviço antes. Sabia que existiam sites de acompanhantes, anúncios online, e até mesmo fóruns onde se faziam análises de garotas, levando em consideração custo/benefício, lugar, a beleza da atendente, dando notas de zero a dez em quesitos tipo sexo oral, vaginal e anal (quando houvesse).
Agora, toda essa grandiosidade para um garoto de programa. Claro, ele nunca foi atrás disso, mas mesmo assim, não é preciso ser um deles para saber que o mercado do sexo é muito mais abrangente quando se tratam de garotas se prostituindo do que quando o mesmo acontece com homens. Talvez pelo fato de as mulheres ainda não se sentirem confortáveis com o fato de ter de contratar um profissional. Sabem como é, essa sociedade onde a mulher não pode nem ser ninfomaníaca em paz sem todo mundo apontar pra ela e a chamarem de vagabunda. Às vezes, até mesmo muitas vezes, parece que a mulher não tem nem o direito de sentir prazer. Penso em quantas vidas femininas foram desperdiçadas sem ao menos saberem o que é sexo além daquele cuja finalidade era unicamente a reprodução – e mesmo esses ainda não sendo lá muito prazerosos.
Apesar de todos os pesares, vale relembrar que ele estava desesperado. Não tão desesperado a ponto de se prostituir para satisfazer outros homens, seja isso ativamente ou passivamente. Claro que isso faria com que ele perdesse boa parte da fatia comercial de uma prostituição masculina. Aliás, se ele realmente quisesse, ele poderia estrelar pornografia homossexual. Todo homem quer ser ator de pornô hétero, e por isso o mercado homo masculino sente até falta de... “recursos humanos”. E pirocas.
Resolveu arriscar anúncios online e em jornais, todos muito discretos e baratos. Até comprou um celular simples – com o dinheiro que ainda recebia de seus pais, é claro – para servir exlusivamente a essa finalidade. Aliás, sempre desconfie de alguém que tenha muitos aparelhos de celular. Ele ou ela já tem um pré-requisito para admitir uma faceta oculta. Independente dos aparelhos, ele não tinha experiência no ramo e toda primeira vez geralmente é complicada, ainda mais em uma área tão estigmatizada como essa.
Soube separar o amor de sexo muito bem em seus primeiros encontros. Assim como se previnir para não transmitir nada de ruim para a sua namorada que, afinal de contas, ele a amava, acima de tudo! Mas também reparou que a maior parte de suas clientes eram senhoras, muitas vezes desgostosas de seus casamentos já corroídos com o passar dos tempos e que precisavam de uma aventura mais emocionante em suas vidas já sem graça de bodas de prata. Chegou até a ser questionado se ele fazia festas de despedidas de solteira, mas pensou que não era musculoso o suficiente e se sentiu ridículo vendo a si mesmo numa fantasia de bombeiro, entrando na casa e perguntando onde era o “fogo” que ele teria de “apagar”. Declinou o convite.
A vida, ah, a vida é uma caixinha de surpresas. Alguns meses depois de entrar para essa vida, nesse novo trabalho, já obtendo alguma independência aqui e ali, e sem que sua namorada notasse vez alguma – pelo menos não a ponto de questionar nada – ele recebeu uma ligação no mínimo curiosa. Era uma senhora, mais uma vez, querendo marcar programa com ele. Combinaram num famoso motel da cidade em plenas três horas da tarde. A parte curiosa, se é que você me pergunta, é que dessa vez ele pensava ter reconhecido a voz do outro lado da linha. Temeu por um instante que algo pudesse dar errado, mas resolveu ser profissional e encarar o trabalho qualquer que fosse.
Ele chegou 20min antes do combinado e ficou esperando no lobby do motel. Pela janela, viu um táxi se aproximando e esperou sair dele aquela que ele pensava ser possivelmente a sua companhia. Ela pagou o taxista, abriu a porta do carro, colocou as pernas para fora e então seu mundo caiu. Era sua sogra.
Ela entrou na recepção do motel e também não pôde acreditar no que vira. Ali, seu genro, prestes a lhe penetrar as carnes por onde saiu sua filha, que era namorada dele há tanto tempo! Resolveu não fazer cena e agiu com a mais perfeita normalidade, ele repetiu o gesto de discrição e então subiram para o quarto.
Tinha tanta coisa que passava pela cabeça dele, assim como na dela, imaginou ele. Resolveu seguir em frente, pelo menos para ver até onde aquilo iria. Receou que fosse uma cilada e que ela contaria para a filha assim que pudesse, e então o relacionamento dela e do genro estariam sem dúvida destruídos. Mas ela, ela não estava ali para isso.
Ao chegarem no quarto e fecharem a porta, meio que como alguém lança os termos de contrato que devem ser lidos antes de se adquirir algum produto, ela resolveu acalmá-lo, dizendo que o que acontecesse ali não sairia pela porta. Ela estava apenas precisando de afeto e excitação, coisas que seu marido já não tinha mais tempo e nem vontade para lhe dar. “Assim como todas as outras”, pensou ele. Aceitos os termos, fez o que tinha de fazer, deu-lha o carinho de que tanto precisava, ouviu suas lamúrias de mulher casada e largada pelo marido. Seu ouvido já estava acostumado ao papo e sua boca sabia exatamente o que fazer, seja para discursar o mesmo consolo de sempre, seja para fazer o sexo oral que sua namorada tanto gostava.
Dispensando comentar os momentos sórdidos entre o casal, depois de uma hora e meia (essa meia hora extra fora de brinde para sua querida sogra), se vestiram e foram embora, assim como fazem outros casais de mulheres casadas e garotos de programa que as secretárias do lobby estão acostumadas a ver vez ou outra. “Não deve ser a primeira vez que ela recorre a ajuda profissional”, concluiu ele.
Na verdade, ele não tinha ideia de como seria da próxima vez que se encontrasse com a sogra na casa dela. Saiu melhor que o esperado, ambos, ele e sogra, se utilizando do mais alto nível de dissimulação que eram dignos de entrarem na calçada da fama dos mentirosos. Uma mentira, sim, mas por uma boa causa.
Ele não queria continuar nessa vida pra sempre. Acho que ninguém quer quando se é um profissional do sexo. Mas até o fim desde relato, a sogra já se tornou cliente preferencial do genro e, com isso, tem ganhado descontos invejáveis a tantas outras senhoras da mesma situação que ela. “Minha filha merece o Homem que tem”, pensou.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pensamento nº infinito


Resumo das conversas que tive com meus queridos e amados neste fim de semana:

- Depois que as mulheres adquiriram seus direitos, o mercado ficou mais acirrado, desumano, competitivo.

- Mulher é chata. Eu sinceramente admiro mulheres que tem a coragem de encarar outras mulheres.  Fica viajando metafisicamente em cima dos acontecimentos da vida. Quer enxergar mais longe, pensar mais no futuro, fazer planos a longo prazo - começando a agir para eles sempre imediatamente. Mulheres são todas potencialmente doidas, depressivas, hiperativas, ou os caralhaquatro porque simplesmente pensam demais. Isso também explica o enorme número de mulheres executivas competentes e que analisam mais minuciosamente todas as situações no mercado de trabalho.

- Na verdade, acho que todo mundo tem porcentagens variadas de homem e mulher dentro de si. Ninguém é 100% nem um nem o outro - só fisiológicamente. E, bom, pra uma mulher aguentar a outra, acho que a resposta é o feminino de uma complementar o masculino da outra e vice-versa. How about?

- Homem é prático, direto ao ponto. Pensa a curto prazo. Gosta de objetivos concretos. O que está bom, mantém - o que não está bom, sai. Sem trololó. Quando tem trololó, fica dificil de lidar.

- O mundo seria um lugar melhor se todos admitissem:
- que tem desejos, mas não necessariamente vão manifestá-los;
- que mentem;
- que também não admitem algumas coisas de vez enquando;
- que homem é psicado pelo tamanho do próprio pinto;
- que mulher também se masturba;

- Mulher se veste, quer cuidar do próprio corpo, não para ser "gostosa " para os homens - mas para elas mesmas. Homens gostam de mulheres. Há os que preferem as com mais peito, há os que preferem com mais barriga, há os que preferem as que gostam de matar zumbis, há os que preferem as misteriosas, e há os que preferem as mandonas.

- Casamento pode dar certo ou não. E não depende só de vontade. Depende do background de cada um também. Então, antes de gastar rios de dinheiro com uma festa em que os convidados vão se divertir mais do que você, faça um teste. É sem graça, não tem muito romance, mas é mais prático. E praticidade, meu bem, leva a uma alegria desconcertada impagável. (Isso não é um conselho, é um palpite. Apenas escrevi em forma de conselho para conseguir me expressar melhor).

- Religião/crença/fé saudável é aquela que permite que você se perdoe. Perdoe seus medos, suas vontades, seus infernos pessoais, e, acima de tudo, seus erros mais banais. É aquela crença que leve você a se aperfeiçoar, mas a saber usar seus erros mais para aprender do que para se condenar. E aquela que permite que você respeite suas próprias emoções É aquela que tira um pouco o peso do mundo das suas costas, porque te dá uma crença de que não são só as suas decisões e ações que fizeram as coisas darem tão certas ou tão erradas.

- Amor bacana (seja de amigo, de amante, de familiar) é aquele que permite você ser quem é a maior parte do tempo possível. Deixa você ser honesto de uma forma tão amplo que melhora até sua honestidade com você mesmo.

- Atividade física ajuda a gente a relaxar e ser um pouco menos neurótico. Porque permite que a gente gaste um pouco de energia com algo que não seja o cérebro.

- Quanto mais a gente estuda, tem experiência profissional, aprende a ser mais racional... Menos a gente fica criativo, viajado. E menos poético. E por isso some do www.sociedadedospoetastortos.blogspot.com.

- Peguei mania de organizar meus pensamentos em tópicos, sem unir um assunto ao outro. Isso é péssimo?


Se quem ler concordar, discordar, ou quiser debater... Pega uma cerveja, um chocolate, ou um plástico bolha e fica à vontade. S'il vous plait.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Eu choro

Eu choro.
Algum tolo um dia ousou dizer que homens não choram, mas quer saber?
Ele é um tolo.

Não choro as guerras
Não choro casamentos
Não choro momentos geralmente choráveis.

Eu choro à vida
E à morte.
O viver
E o morrer.

Pois é fato que a gente só pensa na morte quando ela bate na porta.
Quando algo ou alguém próximo à gente morre.
Familiares, amigos, bichos de estimação; todos morrem.
E quem não morre, segue.
Chorando.

Viver as pessoas vivem sem ao menos se dar conta
Aliás, viver muitas vezes é um saco
Mas quando eu percebo o quão grandioso é estar vivo,
e como existe tanto para se viver,
e tudo o que eu já fiz - que não é muita coisa, mas vá lá-,
Isso me faz chorar à vida.

Pois, só se vive uma vez.
O tempo que você passa lendo este texto, me desculpe, mas jamais vai voltar.
As pessoas matam o tempo, eu mato o tempo, quando achamos que não temos mais o que fazer.
Talvez não tenhamos, mas fato é que o tempo não volta.
Ou "O Tempo Não Para".

Quando eu me dou conta dessas coisas, eu fico embasbacado.
Meus olhos se enchem e eu entendo o tamanho do que é estar vivo.
Textos como "Filtro Solar" e a música "What a Wonderful World", por exemplo, me fazem chorar, ou ao menos lacrimejar.

Vivemos para morrer.
E enquanto isso, a morte, não chega, a gente segue.
Lendo. Rindo.Chorando. Vivendo.

O quanto puder.


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O texto me veio à cabeça - e às lágrimas - devido à iminência de... da... bom, da minha hamster ir pra grande Roda Celestial onde vão todos os hamsters depois de passarem um tempinho na Terra.