sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Horas...

As coisas por elas mesmas não tem um sentido próprio, a inexatidão do cambalear por entre as vielas escuras, somente violenta o que eu sou de forma mais e mais profunda, até que eu seja consumido por toda a violência e já não possa mais sentir além dela. Essa incapacidade inata de fazer sentido e de sentir apenas o paradoxo imensurável da humanidade, de sentir que não sou gente, e como humano sou um fracasso, ainda que não se tratasse de ser aceito, mas apenas humano e permitir-me sonhar de novo como agora não posso mais, como cambaleio por entre vírgulas e períodos imensos de verbos cabisbaixos e morosos, como se palavras pudessem chorar aquilo que sinto ou ainda como se as cordas da minha alma a puxar meu corpo deixassem de obedecer e o boneco passasse a perguntar se de fato as cordas tem algum sentido, e numa psicose profunda a desconfiaria se elas na verdade apenas não o traiam...

Eu sinto como se meus amigos todos houvessem morrido com meus sonhos e essa solidão me abate num silêncio nefasto, sem música, sem réquiem, somente o isolamento no vácuo, nada e vazio consumindo minha essência até que eu apenas não seja, até que meus pontos já não possam parar o trem das emoções que acometem meus dedos e eu escreva e apenas escreva, tentando fazer sentido, mas não, oh Deus eu não posso e sequer consigo. Outrora me encontrava no limite dessa dissonancia do ego, em olhar a face daquilo que eu não era, como um espelho distorcido e sentir como era fúnebre entoar uma melodia espessa que não podia ser eu, mas era e agora ainda como eu é como se não o pudesse ser para o mundo e ainda que eu brandisse com bravura não importaria, serei massacrado, todos seremos junto com nossas pequenas ilusões de vitória, trucidados pelo desencontro do destino que apenas a pacífica e silenciosa proporciona.

Ecoa em minha memória as ultimas palavras que disse, não dele, mas minhas, e o sopro se esvai e a marionete cai e deixa de ser expressiva, se empalidece branca e tão logo sepultamos amargamente também aquilo que sentimos, parte daquilo que existia logo não é mais e o que se foi não nos permite continuar inteiros. Estamos apenas nisto, fadados ao apodrecimento de nossas mentes, e eu, preso a mediocridade da minha essência, minha incapacidade latente que me tenta a lâmina fria todos os dias, com um sorriso pacífico, talvez seja essa loucura quieta e sombria, ou provável apenas idiota e patético, lambendo minha própria melancolia, provando seu gosto azedo de remorso enquanto me perco em minha própria morada, o que eu era não sou mais, deixa de fazer parte de mim, mas mesmo assim ainda me sou, porém não importa o ser, uma vez que aquilo que é importante fato se tornou indiferente e a indiferença preenche todas as lacunas daquilo que eu ainda chamo vida, enquanto me embriago no spleen do passar das horas insones, no sussurrar das horas vazias, para de manha sentir o retumbar da morte no canto singelo dos pássaros entoando hinos de vida...