segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Divagando apenas...

Cansei-me da poesia, porque a própria poesia tornou-se escárnio, deixou de ser a expressão mais íntima do ego para fazer parte de um senso comum já gasto, nesse sentido me cansei da poesia. Não por tornar-se popular, pois ela está em cada palavra escrita errada, ou em cada pensamento que já nasce em forma de verso, para além do que é escrito. Como se fazer poesia se desse na verdade em pensar dramaticamente. Nesses breves devaneios matinais em que visito o passado, me sinto insuflado por essa inspiração insípida que nunca pôde me dar linhas, mas vez ou outra faz rir de um tempo tão próximo e já tão distante.

Talvez todo esse cansaço seja uma espécie de ciúme. A inspiração é uma dama alegre que freqüenta a bailes e valsa com todos. Naturalmente dá suas graças aos mais audazes, tendências de gênero as quais jamais puderam ser negadas. Quiçá essas frases escritas, sem sentimento e triviais, sejam a própria personificação da poesia, que é naturalmente banal. Versos não fazem história, não provocam mudanças, são dispensáveis e ainda sim teimam em brotar nas mais diversas condições...

Enquanto olhava a manhã tão branca eu me perguntava o que realmente importa, e só pude vislumbrar o trivial. Tentarei explicar mesmo que soe como paradoxo. Aquilo que é indispensável se dá naturalmente por um fluxo de regras quase inquestionáveis, fazemos o que cada ator e cada dia nos pedem que se faça, tecendo uma grande teia de significados intimamente vazios. E ainda que subjugados por esses códigos infernais, encontramos razões das mais diversas para o trivial, a única essência capaz de preencher as linhas que ficaram vazias enquanto desempenhamos nossos papéis no grande palco. Desculpas esfarrapadas para elaborarmos algo que o mundo despreza. Desculpas esfarrapadas para nos sentirmos menos máquina.



Bom, pra variar não estou falando de sentimentos, ou talvez até esteja. De fato ainda quando tomava café, eu me perguntava o que realmente importava pra mim e pra outras pessoas, o que realmente nos faz sermos quem somos. Claro que existem diferenças de razões das mais diversas, e parando pra pensar melhor no assunto, acho que é até bobagem falar desse tipo de coisa, visto que não posso sequer arranhar as razões pessoais de toda raça humana. Mas ainda sim isso me incomodou tanto, que tive de escrever algumas linhas e aqui ainda vão mais outras. Os papéis que desempenhamos todos os dias são, como diria o Skylab, papéis de puta, pois nos vendemos e vivemos alguém que não somos nós durante grande parte do dia, mesmo que nos seja, ainda não é intimamente, o nosso natural (Tá, ficou confuso, mas fazendo uma força da pra entender o que eu quis dizer). Exceto os que são banais, esses papéis desempenhados de forma trivial são geralmente os que dão satisfação pessoal maior. Enfim, mesmo para uma pessoa que ame o seu trabalho e viva nele vinte e cinco horas por dia, talvez até eles, só possam sentir-se reais nas coisas que fazem distantes de todo mundo. Visto que a satisfação dos prestígios e elogios desse mundo "não trivial", dura muito pouco. Talvez tenha sido esse meu erro recente, sentir culpa pelo meu real enquanto tento me comparar com máscaras, quando na verdade sou tão real o quanto preciso ser para mim...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Toc Toc

O futuro tá batendo ali na porta.
Eu estou aqui, enrolada em um cobertor, tremendo de medo.
Às vezes levanto, pego um taco de baiseball e me preparo para atacá-lo.
Às vezes vou à cozinha e preparo o melhor chá da tarde para recebê-lo.
Mas… E se ele não for verdade?
E se essas batidas na porta forem os medos do presente,
as injustificativas do passado?
Daí sim as convidarei para entrar, sentar em meu sofá e continuarem aquela longa conversa.
Seremos amigos.
Mas o futuro…
Ele não liga pra falar que vem. Não manda e-mail.
Na verdade, o certo, seria eu já ter saído para encontrar com ele há pelo menos um ano.
Mas não fui. Quis dar uma de difícil.
E agora fico com medo, ansiedade e insaciedade esperando que ele entre pela minha porta…

E se a porta ficar sempre fechada?
Então eu realoco os móveis do presente,
jogo algumas roupas antigas pela janela,
e começo o presente tudo de novo.
Como deveria ter feito ontem.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Horas...

As coisas por elas mesmas não tem um sentido próprio, a inexatidão do cambalear por entre as vielas escuras, somente violenta o que eu sou de forma mais e mais profunda, até que eu seja consumido por toda a violência e já não possa mais sentir além dela. Essa incapacidade inata de fazer sentido e de sentir apenas o paradoxo imensurável da humanidade, de sentir que não sou gente, e como humano sou um fracasso, ainda que não se tratasse de ser aceito, mas apenas humano e permitir-me sonhar de novo como agora não posso mais, como cambaleio por entre vírgulas e períodos imensos de verbos cabisbaixos e morosos, como se palavras pudessem chorar aquilo que sinto ou ainda como se as cordas da minha alma a puxar meu corpo deixassem de obedecer e o boneco passasse a perguntar se de fato as cordas tem algum sentido, e numa psicose profunda a desconfiaria se elas na verdade apenas não o traiam...

Eu sinto como se meus amigos todos houvessem morrido com meus sonhos e essa solidão me abate num silêncio nefasto, sem música, sem réquiem, somente o isolamento no vácuo, nada e vazio consumindo minha essência até que eu apenas não seja, até que meus pontos já não possam parar o trem das emoções que acometem meus dedos e eu escreva e apenas escreva, tentando fazer sentido, mas não, oh Deus eu não posso e sequer consigo. Outrora me encontrava no limite dessa dissonancia do ego, em olhar a face daquilo que eu não era, como um espelho distorcido e sentir como era fúnebre entoar uma melodia espessa que não podia ser eu, mas era e agora ainda como eu é como se não o pudesse ser para o mundo e ainda que eu brandisse com bravura não importaria, serei massacrado, todos seremos junto com nossas pequenas ilusões de vitória, trucidados pelo desencontro do destino que apenas a pacífica e silenciosa proporciona.

Ecoa em minha memória as ultimas palavras que disse, não dele, mas minhas, e o sopro se esvai e a marionete cai e deixa de ser expressiva, se empalidece branca e tão logo sepultamos amargamente também aquilo que sentimos, parte daquilo que existia logo não é mais e o que se foi não nos permite continuar inteiros. Estamos apenas nisto, fadados ao apodrecimento de nossas mentes, e eu, preso a mediocridade da minha essência, minha incapacidade latente que me tenta a lâmina fria todos os dias, com um sorriso pacífico, talvez seja essa loucura quieta e sombria, ou provável apenas idiota e patético, lambendo minha própria melancolia, provando seu gosto azedo de remorso enquanto me perco em minha própria morada, o que eu era não sou mais, deixa de fazer parte de mim, mas mesmo assim ainda me sou, porém não importa o ser, uma vez que aquilo que é importante fato se tornou indiferente e a indiferença preenche todas as lacunas daquilo que eu ainda chamo vida, enquanto me embriago no spleen do passar das horas insones, no sussurrar das horas vazias, para de manha sentir o retumbar da morte no canto singelo dos pássaros entoando hinos de vida...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Companhias

Peguei a tristeza
agarrei, abracei, beijei
segurei com tanta força para que pudéssemos ser uma só.

Calmamente, deixei-a ir. Sem demoras, sem choros pelo choro. Apenas dei-lhe um beijo na testa e guardei sua imagem na telinha da memória.

Achei que a tinha visto desaparecer no horizonte, mas não.
Deixou um vestígio. Uma pequena cicatriz nas lentes que fazem meus olhos, para que eu veja tudo diferente.

E as pegadas de todo o caminho que ela percorreu para ir embora estão bem demarcadas.
Preciso apenas pegar o caminho da volta, de outro lado, para transformá-lo em apenas ida.


Dei no amor o abraço mais apertado
o beijo mais quente e o afago mais atrevido.
Quando ele se foi é que me agarrei à tristeza.
Hoje, ando de mãos dadas com a expectativa e a novidade, uma de cada lado.
E espero encontrar ainda companhias que me tirem do chão
afaguem meu rosto
e apaguem as pegadas dessa teimosa tristeza.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Longing solitário

Em tempos de vidas curtas
em tempos de perdas irremediáveis
oportunidades desnascidas
vidas bem vividas

em tempos sem tempo de tentar dar ao tempo
tempo de ser doce, tempo de reconhecer o tempo

que estes olhos hoje acompanham tempos não vividos
sentem as dores não sofridas por si
só ouvem
e leêm
e imaginam
e recriam
e veêm.

o que sois cego, surdo e insólito para perceber

que o amor é meio amor se não tiver tempo para ser todo o tempo do mundo!

Que o amor sem suspiro, o amor sem doçura

o amor desta terra desaparece como orvalho no amanhecer!

Que esqueço da atemporalidade de meu espaço, poesia

e da superioridade da sentimentalidade

que dá combustível a essa vida de determinação vazia.

Entrega o coração, entrega a voz e o pulmão
Abre a mão,
agarra a canção
não deixa sua alma ficar em silêncio,
não deixa o nada sair das cores estranhas para ir à escuridão.



We've got it all
we've got the choices

we've got the collors, the wings

the longing and a wish

as if my wish was your were all mine

as my body you'd made become yours.

Is there love without longing, afterall?


Taí, bem baiano, misturando inglês com português. Esse eu sei um pouco da origem: a nuvem negra de energia negativa que pairou essa semana. O falecimento de um amigo, tragédias na mídia, reflexões, reflexões, reflexões. Aí isso aí saiu ontem antes de dormir. E a parte em inglês não tá tão claro o tema assim... Mas o Gabriel sempre acaba conseguindo decifrar.

E pelo menos tô vendo que minha criatividade expressionista ainda não foi completamente pro saco...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Brotou do nada pra lugar nenhum

Alma amendoada
doce falta de açúcar
pimenta necessária
nesse mar de marolas limpas


Tava fuçando meu cadernino da facul hoje e achei isso no meio dos doodles. Que coisa! Nem lembrava que tinha feito. Magina então descobrir o que significa =/

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Veludo

Agora, deixa eu ver.
Ergue aqui?
Uau.

Enquanto isso
o movimento
é brevíssimo
dura nem o quê
um ou dois segundos
já chegou
droga!
mas ao mesmo tempo
uau
em mais de um sentido
é realmente bem bonita
mas não só por esse sentido
o tato
ah, o tato
o movimento simples
sem nada
mas ao mesmo tempo tão...
sensacional!
no sentido de produzir sensação
o roçar do dedos
ao fazer o movimento
tão rápido
tão... doce
liso
veludo

veludo que me intriga
como pode isso?
vindo de algo tão inocente
tão normal
tão... tão!
tanto!
é isso o que me incomoda!
o que me fez sentir
o veludo
ah, veludo

veludo que nunca antes provara
veludo a mim tão inédito
veludo assim tão... tão...
simplesmente não há o que continuar
tão... não há o que definir
é assim mesmo
pra quê definir?
só pra por no poema?
faz sentido
mas é bobagem
o que importa
foi aquele um ou dois segundos
de movimento
meu movimento
qualquer movimento
mas que a mim
naquela hora
não foi qualquer movimento


1 - Sim, o blog está às teias
2 - sim, parece poema de guri de quinta série
3 - sim, o mail não foi suficiente...