sábado, 10 de julho de 2021

Realidade

Me sinto mais carente de realidade, de um mundo onde as coisas sejam de fato e não só se pareçam reais. A realidade se tornou caricata, coisa de quadrinhos ou jogos, as pessoas se parecem com personagens em grandes mundos cuidadosamente descritos em livros de distopias, repetindo os mesmos bordões, slogans e verdades. Qual espaço nos sobre de realidade nessa colcha de retalhos estranha que nos compõe? O criador nos cria a sua imagem e semelhança, e nós também criamos outras criaturas a nossa própria imagem e semelhança, e quem vive de fato? É difícil dizer, as personas se espalham e se tornam autônomas, poderiam sê-lo se fossem autenticas, mas são só construtos que gritam e reivindicam a humanidade que fizeram questão de se despir ao adentrarem esses novos infernos digitais. Os criadores se tornam a imagem e semelhança das criaturas, mas os cruzamentos são tão confusos e incertos que mais parecem um borrão, um amontoado costurado de argumentos e as reverências socialmente aprovadas num mar de hipocrisia onde nenhum peixe está mais vivo de fato. Eu, que sempre fui intimo com a tecnologia, sou hoje provavelmente a pessoa mais analógica que conheço. As conexões que busco se tornaram rarefeitas, desconectei o RJ45 e sobrevivo das minhas pequenas migalhas de laços que ainda restam, não se sabe até quando.