segunda-feira, 26 de março de 2012

Seja não

Exercite-se.
Coma fibras. Coma a cada três horas.
Não coma doces demais, gorduras demais.
Mas não perca grandes oportunidades.

Trabalhe.
Evolua.
Aprimore-se.
Relaxe.
Reinvente-se.
Descubra-se.
Concentre-se.
Seja criativo!
Adeque-se!
Seja gentil, polido
Seja sagaz,
Não seja ingênuo
Mas não seja rancoroso.

Seja humilde.
Não demonstre pobreza de espírito.
Mas não rebaixe-se.
Hidrate a pele. Proteja-a do sol.
Tonifique o rosto.
conserve o esmalte, as unhas bonitas.
retoque a maquiagem.
Mas não deixe que a vaidade prevalesça.

Zele pela sua vestimenta,
Zele pela sua morada,
Zele pelos seus bens materiais,
Zele pelo seu capital,
Zele pelos amigos,
Zele pela família,
Zele por seu amor.

Seja curioso,
Seja elegante
Seja simpático - mas seja comedido
Não seja extravagante.

Seja culto,
mas não seja chato.

Informe-se. Mas não se esqueça.
Habitue-se, sistemize-se.
E crie.

Durma bem. Não perca a hora. Aproveite o dia.

Se der tempo - ou se não der - viva.
E - se puder evitar ( o que é inevitávelmente impossível), não morra.

E não corte-se ao meio, em quatro, em oito...


(texto que tende ao infinito, amém).

domingo, 25 de março de 2012

O Puto

- Eu preciso de dinheiro! – disse ele para a sua namorada.
- Eu sei, amor, eu também me sinto assim, eu também quero a minha independência, minha casa, meu dinheiro, mas... infelizmente não há muito o que a gente possa fazer agora.
É o que acontece de vezes em vezes. Cursar uma faculdade e ver seus amigos crescendo na vida, ganhando um pouco aqui ou ali, mas enfim, ganhando uma certa independência. Mas ele, não. Eles, não. E isso o deixava frustrado, quando o sentimento lhe pegava com a guarda baixa. Não era o único a se sentir desse jeito. Sua namorada também sentia, assim como tantas outras pessoas, quando não em situações piores que as deles (que aqui não convém explicar, mas vale a citação).
- Sim, não há o que fazer. Será? – pensou ele.
Sua namorada sempre elevava o moral dele. Ele não se achava lá essas coisas, mas diziam que ele era bonito. Não era musculoso e nem magricela, era do tipo normal. Tinha uma vontade louca de amar as mulheres, mas nunca conseguiu se dar bem numa vida vadia. Aliás, não tinha lá muito sucesso com as mulheres, então, ficou feliz quando começou seu namoro, pois não teria mais de se preocupar com essas coisas de conquista do sexo oposto. Era um fracassado e sabia disso. Mas sua namorada o amava mesmo assim. Vai entender, a vida tem dessas coisas inexplicáveis.
Mas agora, a situação era diferente. Estava desesperado. Resolveu, então, unir o útil ao agradável. Jamais trairia seu amor, mas a situação estava crítica e, fizesse o que fizesse, ele saberia separar sentimentos que as mulheres não conseguem separar. Por exemplo, amor e sexo.
Resolveu se prostituir.
O que era complicado, veja bem. Não é um botãozinho que se liga ou desliga e então você é um profissional do sexo. Tem gente até que prefere as profisisonais que não são tão profissionais assim, se é que você me entende. E ele também nunca havia se utilizado desse serviço antes. Sabia que existiam sites de acompanhantes, anúncios online, e até mesmo fóruns onde se faziam análises de garotas, levando em consideração custo/benefício, lugar, a beleza da atendente, dando notas de zero a dez em quesitos tipo sexo oral, vaginal e anal (quando houvesse).
Agora, toda essa grandiosidade para um garoto de programa. Claro, ele nunca foi atrás disso, mas mesmo assim, não é preciso ser um deles para saber que o mercado do sexo é muito mais abrangente quando se tratam de garotas se prostituindo do que quando o mesmo acontece com homens. Talvez pelo fato de as mulheres ainda não se sentirem confortáveis com o fato de ter de contratar um profissional. Sabem como é, essa sociedade onde a mulher não pode nem ser ninfomaníaca em paz sem todo mundo apontar pra ela e a chamarem de vagabunda. Às vezes, até mesmo muitas vezes, parece que a mulher não tem nem o direito de sentir prazer. Penso em quantas vidas femininas foram desperdiçadas sem ao menos saberem o que é sexo além daquele cuja finalidade era unicamente a reprodução – e mesmo esses ainda não sendo lá muito prazerosos.
Apesar de todos os pesares, vale relembrar que ele estava desesperado. Não tão desesperado a ponto de se prostituir para satisfazer outros homens, seja isso ativamente ou passivamente. Claro que isso faria com que ele perdesse boa parte da fatia comercial de uma prostituição masculina. Aliás, se ele realmente quisesse, ele poderia estrelar pornografia homossexual. Todo homem quer ser ator de pornô hétero, e por isso o mercado homo masculino sente até falta de... “recursos humanos”. E pirocas.
Resolveu arriscar anúncios online e em jornais, todos muito discretos e baratos. Até comprou um celular simples – com o dinheiro que ainda recebia de seus pais, é claro – para servir exlusivamente a essa finalidade. Aliás, sempre desconfie de alguém que tenha muitos aparelhos de celular. Ele ou ela já tem um pré-requisito para admitir uma faceta oculta. Independente dos aparelhos, ele não tinha experiência no ramo e toda primeira vez geralmente é complicada, ainda mais em uma área tão estigmatizada como essa.
Soube separar o amor de sexo muito bem em seus primeiros encontros. Assim como se previnir para não transmitir nada de ruim para a sua namorada que, afinal de contas, ele a amava, acima de tudo! Mas também reparou que a maior parte de suas clientes eram senhoras, muitas vezes desgostosas de seus casamentos já corroídos com o passar dos tempos e que precisavam de uma aventura mais emocionante em suas vidas já sem graça de bodas de prata. Chegou até a ser questionado se ele fazia festas de despedidas de solteira, mas pensou que não era musculoso o suficiente e se sentiu ridículo vendo a si mesmo numa fantasia de bombeiro, entrando na casa e perguntando onde era o “fogo” que ele teria de “apagar”. Declinou o convite.
A vida, ah, a vida é uma caixinha de surpresas. Alguns meses depois de entrar para essa vida, nesse novo trabalho, já obtendo alguma independência aqui e ali, e sem que sua namorada notasse vez alguma – pelo menos não a ponto de questionar nada – ele recebeu uma ligação no mínimo curiosa. Era uma senhora, mais uma vez, querendo marcar programa com ele. Combinaram num famoso motel da cidade em plenas três horas da tarde. A parte curiosa, se é que você me pergunta, é que dessa vez ele pensava ter reconhecido a voz do outro lado da linha. Temeu por um instante que algo pudesse dar errado, mas resolveu ser profissional e encarar o trabalho qualquer que fosse.
Ele chegou 20min antes do combinado e ficou esperando no lobby do motel. Pela janela, viu um táxi se aproximando e esperou sair dele aquela que ele pensava ser possivelmente a sua companhia. Ela pagou o taxista, abriu a porta do carro, colocou as pernas para fora e então seu mundo caiu. Era sua sogra.
Ela entrou na recepção do motel e também não pôde acreditar no que vira. Ali, seu genro, prestes a lhe penetrar as carnes por onde saiu sua filha, que era namorada dele há tanto tempo! Resolveu não fazer cena e agiu com a mais perfeita normalidade, ele repetiu o gesto de discrição e então subiram para o quarto.
Tinha tanta coisa que passava pela cabeça dele, assim como na dela, imaginou ele. Resolveu seguir em frente, pelo menos para ver até onde aquilo iria. Receou que fosse uma cilada e que ela contaria para a filha assim que pudesse, e então o relacionamento dela e do genro estariam sem dúvida destruídos. Mas ela, ela não estava ali para isso.
Ao chegarem no quarto e fecharem a porta, meio que como alguém lança os termos de contrato que devem ser lidos antes de se adquirir algum produto, ela resolveu acalmá-lo, dizendo que o que acontecesse ali não sairia pela porta. Ela estava apenas precisando de afeto e excitação, coisas que seu marido já não tinha mais tempo e nem vontade para lhe dar. “Assim como todas as outras”, pensou ele. Aceitos os termos, fez o que tinha de fazer, deu-lha o carinho de que tanto precisava, ouviu suas lamúrias de mulher casada e largada pelo marido. Seu ouvido já estava acostumado ao papo e sua boca sabia exatamente o que fazer, seja para discursar o mesmo consolo de sempre, seja para fazer o sexo oral que sua namorada tanto gostava.
Dispensando comentar os momentos sórdidos entre o casal, depois de uma hora e meia (essa meia hora extra fora de brinde para sua querida sogra), se vestiram e foram embora, assim como fazem outros casais de mulheres casadas e garotos de programa que as secretárias do lobby estão acostumadas a ver vez ou outra. “Não deve ser a primeira vez que ela recorre a ajuda profissional”, concluiu ele.
Na verdade, ele não tinha ideia de como seria da próxima vez que se encontrasse com a sogra na casa dela. Saiu melhor que o esperado, ambos, ele e sogra, se utilizando do mais alto nível de dissimulação que eram dignos de entrarem na calçada da fama dos mentirosos. Uma mentira, sim, mas por uma boa causa.
Ele não queria continuar nessa vida pra sempre. Acho que ninguém quer quando se é um profissional do sexo. Mas até o fim desde relato, a sogra já se tornou cliente preferencial do genro e, com isso, tem ganhado descontos invejáveis a tantas outras senhoras da mesma situação que ela. “Minha filha merece o Homem que tem”, pensou.