terça-feira, 18 de agosto de 2020

Tenho tentado não enlouquecer, tenho tentado sobreviver a mim.

Sigo doente. Por dentro, é como se algo tivesse quebrado além do que sempre esteve, é algo que não consigo evitar. Me cansa lidar com isso tudo, o tempo passa, os rostos mudam, mas quando a noite cai esse desespero é sempre minha companhia certa. Eu queria colocar em palavras todas as minhas inseguranças, gostaria de conseguir comparar elas com as das outras pessoas, queria saber, isso talvez me desse paz... Mas não consigo. Todo dia eu me pergunto se tem algum motivo, todo dia eu tento achar coisas que me façam algum sentido, que me distraiam do pântano lodoso dos meus pensamentos. Mas tem sido tudo sempre em vão, talvez eu só devesse ficar por aqui mesmo, pelo caminho e me deixar esmagar pela pressão do mar.  


quinta-feira, 7 de maio de 2020

Durante a noite é tudo um pouco pior, os medos se ampliam, a ansiedade bate a porta de uma maneira estranha, e eu só consigo pensar que gostaria que isso passasse. A bem da verdade tudo tem melhorado sim, digo, os medos tem se abrandado, estão mais fáceis de lidar. Eu só gostaria que as coisas todas voltassem ao normal, estou mais calmo sim, mas ainda sinto aqui. Me sinto sozinho, sinto saudades de ter uma companheira, mas também não gostaria de lidar com o julgamento, acho que é isso que tanto me corrói e me impede de tentar... Nos meus diálogos mentais sempre penso como sou muito complicado e não compenso com aquilo que tenho a ofertar, estou velho, e cansado, e sinto no peito o peso de uma tonelada. Me sinto sozinho, mas talvez eu tenha estado sozinho a vida inteira, tenho dificuldade de diferir a realidade das paranóias, tenho que ficar lembrando o tempo inteiro de quem eu sou, racionalizando comigo mesmo. Isso cansa. Posso ficar pelo caminho? Já não importa mais, de verdade, para que continuar? Eu sigo nas minhas palavras infantis de sempre, no meu texto ruim e grafado errado. De que importa?

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Tem dias que o suicídio bate a porta, sorri cortês, nos convida à conversa e nos fala do lado de lá, do sossego, do alívio, do mundo no lugar de novo. Tem dias que o suicídio flerta conosco e nós com ele, nesse jogo de gato e rato curioso. "Só estou um pouco cansado" repito o mantra a mim mesmo na esperança de consolar meu desalento, mas a bem da verdade já não tenho mais forças ou vejo lá muitos motivos pra seguir remando, posso ficar por aqui, seria confortável, um ótimo lugar para um ponto final.

Tem dias que a morte parece uma boa saída, que dói demais existir, ficar pensando nessas coisas o tempo inteiro, me sentir desajustado, quebrado, e eu não consigo fazer mais nada. Já não aguento mais sofrer com isso, eu só queria poder dormir um pouco mais, eu queria não ter esse medo estúpido, mas ele está aqui, me bate a porta e me trucida quando eu menos espero.

Consigo entender porque as pessoas usam drogas, para fugir desses pensamentos, para se sentirem bem, para esquecer das aflições, os demônios, mas eu tenho a impressão de que eles me seguiriam e seria ainda pior. O que fizeram comigo? O que eu deixei que fizessem? Estou tão cansado de sempre me fazer as mesmas perguntas e as respostas nunca serem suficientes. Preciso ser paciente? Tenho que esperar mais? Quanto mais? Talvez não valha a pena, talvez não haja luz no fim do túnel, talvez não exista qualquer luz afinal.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Valsa de sons brancos

Às vinte três horas e nove minutos, os conflitos e as pessoas desaparecem,  se tornam levianos demais, já não importa. Ninguém importa. Valsa-se sozinho como nunca para sabe lá deus onde. Um buraco? Um abismo? A janela do décimo andar com as redes cortadas? Pouco importa, segue-se na trilha do marasmo pelo cansaço, assim está muito bom. Não há mais nada que possa ser feito por outrem, só por mim. Eu, que fui sempre titânico, quase um colosso quebrado, sigo confuso, sem vontade, pé ante pé, em busca... De que? Dois para cá, dois para cá, dois para cá, dois para cá.

A neblina da relação entre tarde quente e a noite fria tem um som peculiar que já não ouço direito. Do rochedo fita a tempestade marinha enquanto sussurra e se pergunta "de que importa...?", engraçado que eu não saiba mais a resposta. Não sei mais a resposta. As palavras se amalgamam nesses tons de cinza, meio inexplicáveis e complexos, de onde se tentam interpretar pinceladas de maneira inútil, pois a torrente me invade e não posso evitá-la, só me deixo levar e sofro.

Me animam os pequenos combates, as glórias caladas que não faço questão de me valer, as conquistas íntimas. Não gosto de comando, de me vangloriar, não faz meu estilo, deixe isso às risíveis figuras dos generais, prefiro agir calado, não dar notícia de mim, pois não sou o poder da dominação, nem mesmo vanguarda dominada, minha força é coisa sutil, teimosa, de não se deixar levar pela maré dos ordinários, de me reconhecer e ainda assim manter em alguma medida os pés no chão. Os silfos sopram as condições, e eu os escuto atento, escolho as demandas que fazem sentido, as outras têm seus próprios heróis,  me encantam as pequenas batalhas. Do meu jeito e à minha vontade o mundo se dobra, até que me canse e tudo perca o sentido. Não me perder de vista na tormenta é ainda meu triunfo favorito.