segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Apelo

Eu também tenho medo de você.
Já chorei por ti
Já ri de ti
Nunca cheguei muito perto - sempre fui plateia do seu trabalho.
Mas sempre te senti atrapalhando. Em tudo.
Meus sofrimentos maiores não são culpa sua.
Minhas lágrimas, quando você às traz, são limitadas e bem-resolvidas
Inevitável, inexorável
Te aguardo para onde deixo meu coração -
- nunca para o meu
E me conformo, pouco me deformando com suas conformidades incompreensíveis.

Em minha vida, temida, sua presença machuca breve
Mas quando nas vidas que cruzam a minha...
O machucado arde mais.
O desespero da impotência,
da inevitabilidade
e da transfiguração de sentimentos que vêm em sua carroagem.

Eu sei que não posso pedir -
- mas se pudesse, diria:
pare de roubar os sorrisos que comprei
pare de desacelerar as alegrias que plantei

Por enquanto, então, peço o que posso
pendendo para uma desagradável pertinência:
Venha.
Faça seu trabalho.
Quebre ao meio a tranquilidade de quem não se questiona sobre os destinos da alma.
Tire a paz de quem vive no marasmo da meia-alegria.
Mostre a escuridão para que os que estão na luz possam valorizá-la um pouco mais,
Não poupando energia na busca pelo sorriso.
Venha. Fique um pouco.

Mas, por favor, seja breve.

As cicatrizes são inevitáveis -
os desvios dos rios de lágrimas são visíveis:
molham a qualquer momento e tornam qualquer coração uma terra da garoa.

Mas que as marcas não impeçam os sorrisos de serem sempre sinceros
ou que as alegrias sejam ainda mais frequentes que as consequencias do seu trabalho.

Amém.

E que nós saibamos lidar com as suas idas e vindas, lutando com você todos os dias mesmo sabendo de nossa inviável vitória.

Inexorável. O destino não - você, sim, é inexorável.

Mas que seja suportável para quem só te olha, mas não te encontra.

Amém.

Quase uma oração, né não?