sábado, 28 de abril de 2012

Suicídio e a mentalidade cristã

Pensando sobre a morte e principalmente no significado da morte para a religião, a única razão que consigo entender é que a idéia de paraíso, inferno, demônios e anjos, todos essas alegorias antropomórficas e semelhantes a nossa imagem do ego e o mundo, só posso concluir que é uma idéia de classificar (na linha mais levi-strossiana o possível) e explicar a morte, dando a ela uma essência tangível, que seja possível compreendê-la, distanciando-a do fim absoluto que a morte de fato é (fim dos impulsos neurológicos e fim da consciência). A idéia de um fim absoluto é (ou foi) "prejudicial" ao ser humano em diversos sentidos, pois um final absoluto implica na perda da própria razão de existir. Vida, trabalho, estudos, acumulo de capital, enfim todo e qualquer gozo, simplesmente não possui qualquer razão de ser feito quando se sabe que com a morte todas essas coisas deixaram de existir pra você em absoluto, não poderá ver o fruto disso do paraíso, ou colher essas coisas do inferno que te aguarda, ou ainda rever seus parentes do outro lado e depois voltarem em outra vida. Daí que a vida tem um sentido em si mesma, por que se vive? porque não tem outro jeito, Simples assim, o suicídio (ou a morte) fora da mentalidade cristã elimina racionalmente qualquer possibilidade de gosto pela morte, pois racionalmente não há benefício algum, tudo o que acaba é a custo de seu próprio acabar, da perda da própria consciência, persona e existência de uma maneira geral, algo que pra qualquer pessoa em absoluto é impossível "imaginar". Ora, tente imaginar como é que outra pessoa vê o mundo pelos olhos dela enquanto olha pra você? É impossível, pois pra todos é impossível imaginar outra existência que não seja a nossa (ainda que seja possível supor, mas não compreender sentimentalmente outra existência, pois existem diversos por menores que fazem de nós, nós mesmos, algo que não pode ser "emulado") de posse disso é evidente que não é possível se imaginar sem consciência, sem existência, sem nada enfim. A morte como algo desejável só pode vir do cristianismo e da religião de uma forma geral, pois não importa qual é o fim que a morte leve, ela sempre leva a um lugar, a consciência não cessa de existir, a pessoa ainda "vive" e agora longe dos problemas que tinha, independente de onde se vai, o que é muito contrário da morte absoluta, sem consciência, inexplicável e absolutamente assustadora por essa razão. Portanto a religião colabora para o suicídio, pois concede a morte uma idéia de mudança, transição da vida e sem o fim da consciência e de toda a "bagagem" que essa pessoa construiu durante sua vida e a experiência dela. Só posso concluir que mais uma vez a religião somente colabora mais e mais com aquilo que ela tenta impossibilitar.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Temporários e Ases


E tem uma solidão - das brabas
que não acontece nem por estar-se sozinho.
É por sentir-se abandonado por uma espelho,
Por uma tripa de recheio
Por um miolo de pão mal tostado.


Não necessariamente solidão.
Não dão, não dá
Ou dão tudo que dá
e a própria alma não dá. Ou não encontra.

Só busca, rodopia, pia sem cantar
Plana sem voar
E simplesmente - desmaia na praia.
Não morre, porque levanta e nada contra a maré novamente.

O tempo, por exemplo.
Os segundos, milésimos
Os fragmentos sólidos de um ar que não se indefine por completo
Circundam, dançam, espatifam-se contra nós, patifes
E caçoam. Caçoam da melodia, dos odes, das epopéias
dos a favor, dos contra, e dos condizentes com seus passos mirabolantemente precisos.

A precisão, a prescrição
Fujo, persigo -
tento alcançar sem parear

E, no meio de tudo isso, quase aniquilo o coração
que pulsa perdido, destraído, sozinho
em brigas com as falhas dos miolos, dos tempos, das irrelevâncias indignáveis

Subaproveito, subsequencia, subpensamento
subterraneas imagens, rachaduras por onde escapam os medos

futuros, subjuntivos entrelaçados
passados, impperativos enfeitiçados

Muitos fins, começos,
- recomeços não, porque me repele a repetição.

Me repele a solidão.
Me repele a retenção.
Mas não me repele a cautelosa descrição, ou o cuidadoso cuidado com tanto.