domingo, 14 de dezembro de 2014

Entre o céu, a terra, e a gente

Seu caminho precisa te levar até você mesmo.

Desculpa quebrar seu sonho.
Não é porque não tenho um próprio.
É que sonhos são pesados e espalham cacos agudos ao espatifarem-se no chão.
Então eu voei alto, mas com uma cordinha me segurando ao solo.
Você simplesmente parece que tem só asas - e esqueceu de caminhar.
Desculpa te puxar pelos pés aqui pra baixo.
Tá frio pra cacete o chão, não tá?
Mas aqui o ar é mais pesado.
E foi aqui que eu descobri o amor pela diferença de cheiro entre as flores de diferentes cores.
Veja bem - eu adorei nossos passeios pelas nuvens.
Quando o infinito do céu entra em um coração, ele o enxe de torpor e carrega o corpo planando suavemente pela terra.
Mas eu não pertenço às nuvens como você, amor.
Pertenço às flores. Ao mar.
Ao toque da pele, à delícia de se adentrar o infinito universo de uma mente desconhecida.
Mentes múltiplas, fascinantes e incompreensíveis. Cruéis.
Entendo muito bem você preferir aos céus.

A gente não poderia seguir assim
 - eu voando pendurada em seus pés e você guiando-se pela terra por meio de meus calcanhares no chão.

Mas não interrompe seu voô por minha causa, não!

Atente-se aos pássaros. Às altas árvores que podem servir de um apoio quando você quiser voltar ao chão.

Porque quando eu levantar voô de novo, vai ser com o equipamento completo.
Poruqe minha morada vai ser sempre o meu chão.

Escrito em 01/12/2014.

domingo, 7 de dezembro de 2014

De repente

Tava faxinando o google drive e achei isso aí, que segundo o google foi feito em 18/12/12 e com o título "De repente". Interpretemos como for mais conveniente. Porque é sempre isso que a gente faz com tudo: interpretar. Da forma mais conveniente.
De repente, resolvi voltar aos passados.
E vi reflexos - só algumas sombras, algumas cores
do presente, dos presentes que recebo e das dádivas que repasso.
E me deu aquele medo.

Dos amores serem todos invenções.
Dos sentimentos acabarem por serem todos efêmeros - limitáveis
- que parecem gigantes quando vistos de longe
mas voláteis se olhados de perto.

Mas ah, quer saber?

Não é como se isso atrapalhasse.

São voláteis, são instáveis, são desfazíveis e risíveis até seu último segundo na Terra.
A diferença é que alguns gases podem ser contidos - inalados, inspirados e absorvidos em vez de exalados.

Ninguém sabe como segurá-los. As engrenagens da vida rangem entre si, brigam, racham. Mas, definitivamente, não podem ser controladas. Controlamos a força. Os tempos.

Mas não controlamos a chuva. Os ventos. As tempestades que caem sobre nossas cabeças e nos deixam dias sem respirar.

Talvez seja insano
talvez, menos humano ou mais profano

mas posso concluir:

Todos os amores são tão grandes ou pequenos quanto cabem em si.
Não se comparam. Não são mensuráveis. Não são maiores, menores.

Podem ser mais úteis.
Podem ser mais cômodos.
Podem ser mais convenientes ou menos indigestos.

Mas, como amores, são todos medianos:

Começam na explosão, continuam no brilho perene e, talvez... Apagam-se enfim. Lentamente, rapidamente, dolorosamente, desenxabidamente.

Quem sabe?

Vivamos os nossos.

Iluminemos as nossas vidas - nesses às vezes tão raros momentos em que realmente queremos sair fora do escuro.

Porque, muitas vezes, tudo o que se deseja é fechar os olhos. Mergulhar em sonhos, possibilidades, futuros do pretérito e subjuntivos absurdos.

E em outras, temos apenas preguiça.

E deixamos a música definir se abrimos, fechamos os olhos...

Ou apenas respiramos o amor intoxicante que invade o ar.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Sete anos e ainda não sei direito o que dizer sobre tudo, nem o que dizer sobre você quando pergunto ao nada, sete anos e sinto um aperto talvez ainda maior do que naquele tempo em que fiquei tão desamparado, já que agora parece tudo tão incerto, sete anos e tenho medo de começar a esquecer sobre quem você era, ou das coisas que um dia você disse. Sete anos, longos anos e a saudade começa a puxar os pés enquanto lembranças evanescentes confundem na penumbra das poentes memórias. Pergunto o que você diria, ainda que saiba que provavelmente não concordasse com qualquer conselho que desse, gostaria da segurança das suas mãos pra guiar ao invés das marcas dos seus passos minguantes. Queria ter julgado você menos, queria ter conhecido você mais. Queria ter sido o filho que você esperava, e ainda tento, buscando na própria forma o que era/o que sou agora sem (tanto) medo, talvez da mesma forma que você fazia... Tínhamos tantas diferenças e volta e outra sinto tão pouco diferente de você, quem sabe porque sinta que de certa forma, ainda que um pouco involuntária, assumi seu lugar e que, no final das contas, sua influencia é muito maior do que conseguia imaginar. Nós dois fomos tocados pela morte, de uma forma muito singular, quiçá até rara, nunca havia pensado em como isso foi importante enquanto formou ambos, curiosamente hoje sinto o único herdeiro do seu legado, e pelas razões mais estranhas sinto o nosso laço mais profundo do que qualquer outro. Eu realmente gostaria de saber o que você me diria agora, mesmo não havendo qualquer coisa que pudesse ser dita.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Quando eu era muito pequeno, minha mãe conta, e isso já faz muito tempo, minha saúde era muito frágil, de um bebê esguio, doente e empalidecido. Toda moléstia me acometia, toda gripe era um drama e toda dor amplificada. Quando eu era muito pequeno, minha mãe dizia, ela mal podia me sentir em seus braços, não pesava, tinha um aspecto aéreo, apesar de saber que eu estava lá, a qualquer momento não estaria. Ela sabia. Quando eu era praticamente nada, minha mãe contava, que numa temporada fria, meu corpo contraiu uma inflamação severa, eu não lembro, mas minha mãe lembrava de como eu sofria, ela sentia, que a vida ao pesado passar de  cada hora se esvaia e que eu me desmanchava como aqueles que vieram antes de mim. Numa noite, agreste, uma febre terrível me abateu até o limite, antes mesmo de sair de casa já era tudo tarde, minha mãe chorava, o hospital era apenas desespero, já haviam se esgotado quaisquer momentos, não haviam mais formas. Deixei a casa cadáver, tolhido de todos os sentidos, de batidas no coração ou qualquer respiro, não havia mais tempo. Eu só me lembro de um toque delicado, um suave sibilar a perturbar meus sentidos, rosto alvo, pele fria, e o toque mais sutil que qualquer ser humano talvez possa sentir um dia. Não me lembro das palavras, mas era um olhar terno, semelhante ao da minha jovem mãe. Eu me lembro de um clarear e um despertar ainda mais negro. Não havia mais destino, rumo ou passos, apenas um grande abismo, nunca houve fala ou morte, nunca houve fim, nunca houve sentido. Em queda livre, solto, à minha obliteração intangível.