quarta-feira, 25 de julho de 2012

Em voô

Esses dias um pássaro tocou meu rosto.

E me perguntou:
- Que fazes tão cabisbaixa em uma gaiola?
- Mantenho-me presa.
- Então por que olhas tanto para a porta?
- Porque tenho asas. E não as utilizo.

O pássaro não sorriu. E deixou-me.
E eu deixei a gaiola.

Desci do muro, escalei meus medos
Apontei o dedo
Quebrei um coração
Olhei em volta, e até vi novas gaiolas
adornadas de ouro, espaçosas, confortáveis, carinhosas
E por elas senti-me atraída como um rato a ratoeira.

Joguei-lhe um beijo.
Pisquei um olho.

Dei meia-volta:
- Da minhas asas, não abro mão.

Chorei as lágrimas derramadas pelas minhas próprias palavras
Sorri enquanto planava sob o vento

E sonhei cinquenta e sete vezes com a gaiola dourada.

Não resisto. Insisto.

Adormeço a poesia,
Liricamente desfaço-me de velhas roupas
Descanso os braços e as canções cansadas, repetitivas

E abro os olhos para o horizonte
que, pela primeira vez
é infinito de verdade.

…mas
 aquela gaiola dourada…
Não.

A canção fica insossa quando cantada dentro de paredes.
A  música perde sentido,
A voz perde torpor
e os olhos perdem brilhos, tornando opacas todas as outras cores ao redor.
As asas. São as asas que importam. Que os olhos se fechem, que a pele estremeça, que o corpo se contorcione.
Mas que a asas não deixem de bater.

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