segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Prostrado na plataforma aguardava angustiado o primeiro trem, junto aos outros tantos passageiros que olhavam seus relógios aflitos por seu atraso. Não lembrava exatamente o destino, mas tinha a sensação de que ao embarcar a ansiedade sumiria, com alguma sorte ainda teria um acento livre e poderia finalmente fechar os olhos por alguns instantes. Precisava ir, sabia disso como sabia que dali poucas horas a aurora resplandeceria no céu, mas não sabia para onde, tinha que andar, correr, pois sentia-se sufocado, até que o corpo encontrasse alguma pequena morte que desse sossego a desarmonia que levava no peito. Não importava para onde, mas o desassossego incomodava e ainda assim andar de mãos dadas com ele e estar sob sua tutela era horrível. Tinha que pensar, entender, sentir todo aquele fluxo turvo, caudaloso, depurar e encontrar no fundo de si a si mesmo. Sabia que de outro modo seria tudo somente ilusão, que o demônio atormentador só descansaria para retornar ainda mais irado quando tudo fosse silêncio.

Não podia ir, nem ficar.

O trem chegou e logo partiu.

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